Resenha XXXIII - O Jogo do Anjo

8:00 PM


Em "O Jogo do Anjo", Ruiz Zafón nos leva de volta à Barcelona, ao Cemitério dos livros esquecidos, à Livraria Semprere e Livros... No entanto, as semelhanças com "A Sombra do Vento" acabam por ai. Nada da vitalidade, do ímpeto e do amor desenfreado de Daniel pelos livros e por Bea. Agora, o autor nos apresenta David, um jovem escritor que desde cedo vende seu talento por moedas de ouro, traindo assim o seu dom.

David desperdiça sua vida. Seu pessimismo e desventura tem espaço não na Barcelona cheia de cores e sons da Rambla e da Boquería, mas numa Barcelona, 'cidade de malditos'. Me atrevo a dizer que a cidade é uma dos protagonistas da obra. Não apenas pela capacidade de Zafón de descrevê-la, mas por dar-lhe uma vida própria, por ser testemunha de todos os fatos e talvez a única a compreender o que realmente acontece na vida dos demais personagens.

Nessa história sombria, num dado momento o leitor pode ter a sensação de perder os sentidos, de não ser mais um ser externo onipresente e onisciente. Na verdade, ele está tão perdido na loucura e na escuridão como todos os outros: David, Vidal, Cristina... A única luz que parece permanecer está na chama de Isabela e na segurança que encontramos na Semprere e Livros.

E falando em Isabela, seus diálogos com David são o melhor do livro. Rápidos e inteligentes, eles conseguem trazer leveza no momento e na medida certos.

Dito isso, só posso acrescentar: leiam, ou melhor, se percam nas histórias, nos cenários, nos personagens, no bairro do Born e vislumbre a Catedral de Maria do Mar, a casa da torre. Olhe para o Park Guell sem as cores e os ladrinhos. Conheça esse anjo ou demônio que vive perto de cada um de nós.

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Ficha Técnica
Título: O Jogo do Anjo
Autor:
Carlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de Letras
Ano da Publicação: 2008
ISBN: 978 85 60280-30-8
410 páginas

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