Resenha XIX

7:28 AM


Era criança quando José Sarney governou o País. Nunca o havia imaginado escritor, pois essa figura que guardei ainda menina persistia em minha mente com direito a faixa presidencial e a inflação galopante. Para desmistificar um pouco e conhecer o Sarney da Academia Brasileira de Letras, resolvi ler Saraminda. E como gostei do livro! Talvez seja bom não esperar muito de uma obra para estarmos livres de pré-conceitos e nos permitir a surpresa, o conhecer um outro universo.

Em Saraminda, Sarney evidencia sua capacidade em reconstituir o período histórico onde transcorre a história: o garimpo do Amapá, quando a região estava em disputa entre Brasil e Guiana Francesa, no final do século XIX. Uma terra onde o ouro brotava no meio da mata hostil e determinava a vida das pessoas. Poucos se fizeram ricos com ele como Cleto Bonfim e Clément Tamba. A maioria, morria pela sede do ouro por sangue, como dizia o capataz de Cleto, Celestino Gouveia.

Mas no meio da tristeza do garimpo surgiu Saraminda. Comprada por Bonfim por 10 quilos de ouro, essa creolé de pele negra, cabelos lisos negros, olhos verdes como esmeralda e seios da cor do ouro foi a vida e a perdição de Bonfim.

Todo livro é uma obra aberta e em Saraminda isso fica explícito ainda mais. Sarney com uma narração fragmentada nos leva a conhecer a história por diferentes pontos de vista, que nem ao menos sabemos se são reais ou imaginários.

Na contracapa do livro, pergunta Carlos Heitor Cony se Saraminda foi uma Capitu que provoca a dúvida justiçada pelo dono de sua carne. Que o leitor decida...

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