Resenha XIV

8:08 PM


A resenha da editora começa assim: “Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em A menina que roubava livros”.

De fato, para que a Morte – a indesejada – decidisse contar seis anos da vida de uma menina de 10 anos em plena Alemanha nazista, a história deveria ser muito interessante. E é. O australiano Markus Zusak nos traz, em A menina que roubava livros, uma narração fragmentada costurada com o horror da guerra, ironia e, principalmente, com o poder da palavra.

É ela, a palavra, que salva a personagem principal, Liesel, do mundo que desmorona ao seu redor. Primeiro, antes do início da guerra, quando morre o seu irmão e ela rouba seu primeiro livro, O Manual do Coveiro; e depois, já no fim da Segunda Grande Guerra, quando uma bomba leva embora toda a vida que ela reconstruiu.

A vida de Liesel não foi nada bela. O pai comunista foi perseguido, o irmão morreu e a mãe a deu para adoção. Na nova família, uma nova “mamãe” que a chama de porca todo o tempo. No outro lado da balança, um novo “pai”, um acordeonista simples e sensível. Há, ainda, o seu melhor amigo e grande amor de juventude, Rudy Steiner e o judeu Max Vanderburg, que se esconde no porão da pequena casa.

O amor pelos livros surgiu da dor e a sustentou. De 1939 a 1943, foram 10 livros entre roubados, oferecidos, escritos para ela e, no fim, um escrito por ela. Sem dúvida, o livro é uma ode à literatura.

PS: Quem quiser ler o primeiro capítulo do livro, é só clicar aqui.

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Trecho escolhido:

“O livro no topo da pilha era O Assobiador, e ela falou em voz alta, para ajudar sua própria concentração. (...) Na página três, todos estavam calados, menos Liesel.
A menina não se atreveu a levantar os olhos, mas sentiu os olhares assustados prenderem-se a ela, enquanto ia puxando as palavras e exalando-as. Uma voz tocava as notas dentro dela. Este é o meu acordeão, dizia.
O som da página cortou-os ao meio.
Liesel continuou a ler. Durante pelo menos vinte minutos, foi entregando a história. As crianças menores as acalmaram com sua voz, enquanto todos os outros tinham visões do assobiador fugindo da cena do crime. Não Liesel. A menina que roubava livros via apenas a mecânica das palavras – seus corpos presos no papel, achatados para lhe permitir caminhar sobre eles. Além disso, em algum lugar, nos hiatos entre uma frase e a maiúscula seguinte, também havia Max. Liesel lembrou-se de ter lido para ele quando o rapaz estivera doente. Será que ele está no porão?, pensou com seus botões. Ou estará roubando de novo um vislumbre do céu?”. (pág. 332-333)

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FICHA TÉCNICA

Livro: A menina que roubava livros
Autor: Markus Zusak
Editora: Intrínseca
Ano da impressão: 2007
ISBN: 978-85-98078-17-5
478 páginas

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